ABDÔMEN, EPICÔNDILOS E ESFORÇO!

Vamos começar da barriga quadriculada
(six pack ab), que é um dos temas mais difíceis de todo fisiculturismo, e talvez por isso um abdômen bonito e com a musculatura evidente seja tão valorizado...






Na verdade, manter uma boa postura ajuda a manter o equilíbrio mecânico entre as estruturas que suportam a carga do nosso corpo sentado, em pé - parado ou em movimento - e inclusive deitado... Dessa forma a musculatura que está sendo exigida para manter uma posição sempre ficará com uma boa condição para manter as atividades diárias, claro que obedecendo um limite. Infelizmente, depois que atingimos nossa maturidade muscular - algo entre 25 e 35 anos de idade - começamos a perdê-la numa taxa lenta até os 50 anos e com aceleração importante a partir daí. Sendo assim, mesmo forçando-se estar em posições adequadas, fica extremamente difícil manter músculos sem treinamento, porque isto é uma questão de ordem natural não sendo possível contar com que estas atividades de baixa intensidade sejam o suficiente para proteger qualquer grupo muscular do sistema musculo-esquelético. Sendo assim, infelizmente, manter contrações durante o dia não atingem o necessário nem mesmo para mantermos nossa massa muscular, quanto mais para deixar nosso abdômen musculoso...

O parênteses que faço a partir dessa questão é que muitos produtos para atividade física, principalmente aqueles que "dão choquinho", apostam nesse lance de "fazer exercício sem se cansar, ou sem esforço ou sem sofrimento..." e isso não existe.

Para se causar uma adaptação, há que se fazer exercício físico em uma intensidade adequada. Essa intensidade faz com que haja modificações anatômicas e bioquimicas para adequar o corpo àquele determinado tipo de esforço e o resultado estético se torna uma conseqüência do ganho de aptidão (isso para quem treina e planeja da forma correta...). Sendo assim voce parece com o que voce é capaz de fazer. Se voce não for capaz de fazer nada, logo, vai se parecer com...

Portanto, cuidado com promessas, principalmente aquelas que guardam qualquer envolvimento com questões de mercado...

Evitar epicondilite? É Luis, agora você me pegou... Não somos capazes de prever quando estas doenças do tecido musculo-ligamentar irão ocorrer, apesar de conhecermos sua fisiopatologia e alguns fatores predisponentes, mas prever e previnir é complicado porque normalmente, para o organismo do esportista, tais condições vem atreladas a alguma forma de intensificação da atividade física e não necessariamente somente o aumento de repetições...

Epicondilites mediais por exemplo tem relação com o desequilíbrio de ação muscular (quase que uma incoordenação) durante o exercício que o esportista acaba apresentando ao realizar flexões do cotovelo contra-resistência ao treinar bíceps, pois a musculatura flexora do punho, que sempre acaba sendo solicitada nestas ocasiões trabalha de maneira sinérgica. O que acaba acontecendo é que o que predispõe às epicondilites mediais é a incapacidade que o esportista tem de controlar a dissipação de energia do movimento nas estruturas flexoras do cotovelo ao mesmo tempo que não sobrecarrega as estruturas flexoras do punho.

Estudando biomecanicamente a situação vemos que o fulcro do bíceps acaba por deixá-lo numa alavanca interpotente onde o braço de ação é da ordem de 1/5 do braço de força. Já a estrutura dos flexores do punho são da ordem de 1/10, 1/15 (ou as vezes até 1/20!) de desfavorecimento para os músculos que compõe as estruturas que irão fazer a flexão do punho (explicação rápida - esta relação determina que o ponto onde está inserido a fonte de força é de dez a vinte vezes mais próximo do ponto de rotação - fulcro - que o ponto onde haverá o movimento... Lembre-se do princípio de Arquimedes: Dêem me uma alavanca de tamanho satisfatório que eu elevarei a Terra - aqui acontece o inverso: a alavanca de tamanho insatisfatório ou o esforço excessivo na estrutura provoca adoecimento do ponto de origem da musculatura). Fora isso devemos ns lembrar que o conjunto bíceps braquial + braquial tanto em tamanho de ventres musculares quanto em tamanho, resistência e força de suas estruturas ligamentares e ênteses é muito, mas muito maior do que todos os flexores do punho e sua pequena origem: o epicôndilo medial do cotovelo. Como poderíamos imaginar que distribuir a mesma quantidade de energia para estas duas estruturas poderia ser semelhante?

Muito menos ser suporável por estruturas de arquitetura tão díspar?

Percebe? Daí o que podemos fazer é, ao sentir os primeiros sintomas, reorientar os exercícios, lançar mão de medidas fisioterápicas como medidas analgésicas e anti-inflamatórias por meios físicos antes e depois dos treinamentos e acompanhar dia a dia a evolução para que a nossa resposta seja à dada a medida do necessário, nem mais (para não criar alarde e fazer nosso paciente se sentir um doente e desanimar frente ao esporte) e nem menos (para não deixar a condição se estabelecer e nosso esportista ser obrigado a abandonar o esporte momentaneamente por excesso de vontade nossa que ele mantenha seu ritmo, por sabermos o quanto é importante para a saúde dele).

Bom, por último deixamos nossa pergunta mais ampla, mas vou responder mais sucinto senão vamos acabar por escrever um tratado por aqui... rs...

Olha, o universo das adaptações possíveis para um organismo esbarra em limites anatômicos e bioquímicos precisos que são basicamente determinados funcionalmente por: tipo de substrato energético utilizado, quantidade dele utilizado, intensidade com que ele é utilizado (consumo), capacidade de se resistir à fadiga, capacidade neurológica (capacidade de gerar e responder à potenciais de ação), equilíbrio inter e intramuscular, disponibilidade de enzimas que participam daquele determinado metabolismo e seu turnover, disponibilidade de organelas (no caso do exercício aeróbio, as mitocôndrias); e determinados anatomicamente por: volume muscular, equilíbrio entre agonistas, sinergistas e anagonistas, vascularização, rede neural intrínseca (profundidade das ramificações das placas motoras), capacidade cardíaca, entre outras...

Utilizar determinadas adaptações para determinados fins seria como querer fazer um Fusca chegar aos 300km por hora simplesmente por colocar nela um motor de uma Ferrari.... De cara imaginamos que tal façanha deva ser razoavelmente complicada, porque as variáveis que estamos dando são atreladas: carenagem de Fusca - motor de Ferrari... se assim fosse o automobilismo esportivo (na fórmula 1 por exemplo) veríamos os carros com motores semelhantes terem desempenhos iguais... Tal comparação é válida, guardadas devidas proporções para o universo do exercício físico.

Quando recomendo que tenha mais ou menos atividade aeróbia ou anaeróbia na sua rotina desportiva é para que o estímulo aeróbio não se sobreponha ao estímulo anaeróbio de forma a desfazer as mensagens de como o organismo deve se adaptar para o objetivo que se tem.

Na realidade Luis, é tudo um problema de comunicação: o exercício físico por motivos estéticos é determinado na forma que voce tem de "falar" ao seu corpo como quer que ele fique: se você der estímulos de propósitos diferentes, por provocarem adaptações opostas, em intensidades semelhantes, concorda que seu corpo não vai responder 100% de uma forma nem 100% de outra? Para tal, controlamos a intensidade dos estímulos para o seu corpo para que eles não se sobreponham e não deixem você sem o resultado que você deseja....

Resumo de tudo isso: tenha orientação e acompanhamento. Só um profissional da área observando será capaz de reconhecer o que de fato acontece, interpretar e criar uma resposta adequada a sua necessidade.

Exercício físico não é para qualquer um e muito menos não é de qualquer jeito.

E daí te trago um conceito que aplico para me orientar na parte esportiva do meu consultório: Somos muito preciosos para tratar nossa vida à base da tentativa e erro. Porque na melhor das hipóteses perdemos tempo, o que já é imperdoável...
(lembra-se? tempus fugit?)
  

Fonte: superperformance.blogspot.com.br
  
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